A sua mãe ou o seu pai faleceu. Teve uma boa, má ou indiferente relação com ele/a, mas os seus sentimentos por ele/a são bastante fortes. No fundo, todos nós amamos profundamente os nossos pais. E eles amam-nos de forma incondicional.
Agora tem de encarar a mais difícil, mas necessária, dor da perda desta pessoa que tanto significava na sua vida. Sofrer é a expressão aberta dos seus pensamentos e sentimentos sobre a morte. É uma fase essencial para recuperar.
Perceba Que a Sua Dor é Única
O seu sofrimento é único. Ninguém sente exactamente da mesma maneira. A sua experiência será influenciada pelo tipo de relação que teve com o/a seu/a pai/mãe, as circunstâncias da morte, o seu sistema de apoio emocional e as suas crenças culturais e religiosas.
Como resultado, sofrerá à sua maneira e ao seu próprio ritmo. Não tente comparar a sua experiência à de outras pessoas, nem tente supor o tempo que a sua dor irá durar. Considere”viver um dia de cada vez” o que lhe permite sofrer ao seu próprio ritmo.
Espere Sentir Uma Variedade de Emoções
O laço pai/mãe-criança é, talvez, o mais fundamental dos vínculos humanos. Quando o seu pai ou mãe morre, esse laço é estraçalhado. Como resposta a essa perda pode sentir uma variedade de emoções.
Entorpecimento, confusão, medo, culpa, alivio e raiva são alguns dos sentimentos que pode sentir. Às vezes estas emoções serão seguidas umas das outras em curtos espaços de tempo. Ou até mesmo simultaneamente.
Apesar de todos nós termos maneiras de sentir a morte de um dos pais de forma única, algumas das emoções mais comuns incluem:
Tristeza. Provavelmente espera sentir-se triste quando um dos seus pais morre, mas poderá ficar surpreendido com a opressiva profundidade do seu sentimento de perda. É natural que se sinta profundamente triste. Afinal de contas, alguém que amou e que o amou incondicionalmente já não se encontra consigo. Se já não tinha um dos seus pais e agora acabou de perder o que lhe restava, pode sentir-se extremamente triste; tornar-se num “órfão adulto” pode ser uma transição muito penosa. Pode, também, sentir-se triste porque a perda de um dos pais activa perdas secundárias, como a morte de um avô. Permita sentir-se triste e aceite a sua dor.
Alívio. Se a pessoa que faleceu (o seu pai ou a sua mãe) já estava doente antes da sua morte, pode sentir alivio quando ele ou ela finalmente morrem. Este sentimento pode ser particularmente forte se for o responsável pelo cuidado do seu pai ou mãe doente. Isto não significa que não amasse o seu pai ou mãe. Na realidade, o seu alívio após tanto sofrimento é o desenvolvimento natural do seu amor.
Raiva. Se a sua família é abusiva e disfuncional, pode sentir raiva por não ter resolvido isso com o seu pai ou mãe que agora faleceu. A morte dele ou dela podem trazer alguns sentimentos dolorosos à superfície. Também, pode sentir-se furioso porque uma relação de amor da sua vida terminou de forma prematura. Se está com raiva, tente examinar de deriva essa raiva e tente agir de acordo com isso.
Culpa. Se a sua relação com o seu pai ou mãe era rígida, distante ou ambivalente, pode sentir-se culpado quando este morre. Pode desejar ter dito coisas que queria mas nunca disse – ou pode desejar não ter dito as coisas que disse. Pode desejar ter passado mais tempo com ele ou ela. A culpa e o remorso podem ser respostas normais à morte do seu pai ou mãe. Faz parte do percurso do luto essencial para recuperar.
Por muito estranhas que algumas destas emoções pareçam ser, são normais e saudáveis. Deixe sentir tudo o que tiver de sentir, não julgue nem tente reprimir pensamentos e sentimentos dolorosos. E sempre que possa tente encontrar alguém que o ouça e o ajude a explorar a sua dor.
Reconheça o Impacto Dessa Morte no Resto da Família
Se tiver irmão e irmãs, a morte de um dos pais irá, provavelmente, afectá-los de maneira diferente da que está a afectá-lo a si. Afinal, cada um deles teve uma relação única com o seu pai ou mãe, assim cada um deles tem o direito de sentir essa perda da sua própria maneira.
Esta morte pode também incitar conflitos de irmãos. Podem não estar de acordo sobre o funeral, por exemplo, ou discutir sobre as finanças da família. Reconheça que estes conflitos, apesar de desagradáveis, são naturais. Faça um esforço para encorajar o diálogo aberto durante este tempo de stress familiar. Mas pode também verificar que esta morte serviu para o unir mais aos seus irmãos. Se assim for, agradeça essa bênção.
Finalmente, quando existe um dos pais vivo, tente entender o impacto que essa morte teve nele ou nela. A morte de um cônjuge – frequentemente, um companheiro de muitas décadas – significa muitas das coisas que significam para si, filho daquela relação. Isto não significa que seja responsável pelo seu pai ou mão vivo; primeiro, tem de recuperar do seu próprio luto para depois o puder ajudar. Mas significa que você, sendo mais jovem e por isso um membro mais elástico, deve ser paciente e compassivo com o seu pai ou mãe vivo.
Procure Apoio Nos Outros
Talvez a coisa mais compassiva para consigo próprio seja procurar apoio nos outros. Pense: o luto de um dos pais pode ser o trabalho mais duro que alguma vez desenvolveu. E o trabalho duro fica menos pesado quando dividido com outras pessoas.
Se o seu pai ou mãe já eram idosos, pode sentir que os outros não compreendem a sua perda completamente. Na nossa cultura, temos tendência a não valorizar os anciãos. Vemos os idosos como tendo sobrevivido a sua utilidade em vez de os vermos como fonte de uma grande sabedoria, experiência e amor. Assim, quando um ancião morre, dizemos, “Não esteja triste, ele/a viveu uma vida longa e cheia” ou “Já era o tempo de ele/a ir”, em vez de “A sua mãe (ou o seu pai) era uma pessoa muito especial e a sua relação com ela deve ter significado muito para si. Sinto muito a sua perda”.
Nas famílias combinadas ou não tradicionais também podem ser fonte de sofrimento. Se perdeu alguém que apesar de não ser seu pai (ou mãe) biológico foi quem o criou, o seu sofrimento por essa pessoa é natural e necessário. Tem o direito de sofrer pela morte do seu pai (ou mãe) – figura que para si o é verdadeiramente.
Procure pessoas que compreendam a sua perda e o ouçam abertamente os seus sentimentos de dor. Evite pessoas que julgam os seus sentimentos ou, que façam pior, tentem desvalorizá-los. Partilhar a sua dor com os outros não a farão desaparecer mas vai, com o passar do tempo, tornar-se mais suportável. Através do apoio vai ligar-se mais aos outros e fortalecer laços de amizade e amor que dão novamente valor à vida.
Seja Tolerante Com os Seus Limites Físicos e Emocionais
Provavelmente, os seus sentimentos de tristeza e perda deixam-no cansado. A sua capacidade para pensar claramente e tomar decisões pode estar afectada. O seu nível de energia pode estar em baixo. Respeite o que o seu corpo e mente lhe estão a dizer. Descanse bastante. Coma refeições equilibradas.
Permita-se dosear a sua dor, não se force a pensar e a reagir à morte logo que ela acontece. Tem de se recuperar mas também tem de viver.
Aceite a Sua Espiritualidade
Se a fé faz parte da sua vida, expresse-a da maneira que achar mais apropriada.. permita-se estar rodeado de pessoas que compreendam e apoiem as suas crenças religiosas. Se estiver furioso com Deus devido à morte de um dos seus pais, entenda esse sentimento como uma fase normal do processo do luto. Procure alguém para conversar que não seja crítico e que permita que fale sobre os seus pensamentos e sentimentos.
Pode ouvir, muitas vezes, “Quem tem fé, não necessita de sofrer”. Ignore. O facto de ter a sua fé individual não quer dizer que não tem pensamentos e sentimentos. Negar a sua dor é convidar a que os problemas cresçam ainda mais. Expresse a sua fé mas expresse também o seu sofrimento.
Permita a Procura de Significado
Pode perguntar-se “Porque é que a mãe (ou pai) teve de morrer agora?” ou “O que acontece depois da morte?”. Esta procura de significado da vida é uma resposta normal à morte de um dos nossos pais. Na realidade, para se poder recuperar tem que explorar as perguntas importantes para si. E está bem mesmo que não encontre respostas definitivas. O mais importante é permitir a oportunidade a si próprio de pensar (e sentir) isso.
Guarde as Suas Recordações
Apesar do seu pai (ou mãe) já não se encontrar junto a si fisicamente, ele ou ela vivem em espírito, através das suas recordações. Guarde bem essas recordações. Partilhe-as com a família e amigos. Reconheça que algumas dessas recordações são tristes e outras são alegres, mas em qualquer caso, são a única e importante parte que restou da relação que teve com a sua mãe ou pai.
Pode querer guardar tributos importantes dessa relação pai/mãe-filho. Pense na plantação de uma arvore ou a criação de uma caixa de memórias, com fotografias e outras lembranças.
Oriente a Sua Dor e Recuperação
Para voltar a viver e a amar novamente, tem que sofrer completamente. Não recuperará a menos que permita expressar os seus sentimentos de dor abertamente. Ao negar a sua dor fará com que fique mais confuso e subjugado pelo sofrimento. Aceite a dor e recupere-se.
A reconciliação com a dor não acontece rapidamente. Lembre-se, o luto é um processo, não um acontecimento. Seja paciente e tolerante consigo próprio. E nunca esqueça que a morte de um pai ou de uma mãe muda para sempre a nossa vida.